Empresas que atuam em Corumbá estão com 95% de agendamento para as 42 viagens autorizadas no ano
A atividade turística da pesca está sendo retomada no rio Paraguai a partir deste dia 1º de fevereiro. Só está autorizada a modalidade pesque e solte e a partir de Corumbá a estimativa é que 300 pessoas estão chegando na cidade, desde segunda-feira (31) até a sexta-feira (4).
Neste ano, o setor tem um cenário bem diferente de 2020 e 2021 e em torno de 95% da janela de viagens pelo rio está com agenda fechada antes mesmo do início da temporada.
O turismo de pesca para a região do Pantanal é um dos mais importantes em termos econômicos e corresponde à geração de cerca de 1 mil empregos e como movimento econômico representa arrecadação bruta na casa dos milhões de reais.
Além disso, ao longo de nove meses, a previsão é que mais de 12,5 mil turistas circulem por Corumbá e Ladário por conta da modalidade.
Esse número ainda não é o mais esperado pelo setor, que antes de 2019 conseguiu atrair até 30 mil turistas/ano, mas nesse período de novo coronavírus o movimento caiu para cerca de 10 mil ao ano.
No primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, houve fechamento da pescaria por conta do risco de contágio, além de adiamentos e cancelamentos que turistas fizeram e somente 30% das viagens foram realizadas.
Em 2021, o cenário foi de retomada, mas nem todas as 42 viagens que são possíveis de acontecer foram fechadas pelos barcos-hotéis ligados à Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo (Acert), que conglomera 19 barcos-hotéis, 3 hotéis e casas de materiais de pesca, além de concessionárias de motores.
Até mesmo a estiagem que vem assolando o bioma desde final de 2019, agora em 2022 foi amenizado.
O nível do rio Paraguai, na régua de Ladário, está em 1,22 m, sendo que a média para o período é de 1,05 m. Isso dá boas condições de navegabilidade.
Neste 2022, outro fator que está sendo analisado é que o vírus SAR-CoV-2 não sinalizou impedimento para que novos pacotes e o cumprimento de contratos passados fossem mantidos.
Mesmo com a variante Ômicron em circulação, o que ocasionou aumento de casos de forma geral, o fato de a doença não estar manifestando-se de maneira grave acabou mantendo o ânimo do turista, que em geral vem dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e, em partes, do próprio Mato Grosso do Sul.
Somente nesta segunda-feira (31), os primeiros turistas a partirem para quatro dias de viagem pelo rio Paraguai eram formados por grupos de São Paulo e Paraná.
Os dois primeiros barcos-hotéis que saíram começaram a navegação por volta das 14h30. Entre esses visitantes está o grupo da capital paulista chamado Pantapesca. Ele é formado por 21 pessoas, algumas delas visitando Corumbá há duas décadas.
Darci Batistela, 76, é um dos precursores desse grupo, que começou a viajar para a Capital do Pantanal quando o turismo de pesca ainda estava engatinhando, sem tanta estrutura com os barcos-hotéis como há hoje. “Perdemos amigos ao longo desse período, alguns não foram para a covid-19, outros foram.
Mas seguimos vindo e neste ano tem uma renovação. São 5 veteranos e o restante é de novato, pessoas que estão vindo pela segunda ou terceira vez. Estamos renovando a tradição”, contou.
Com Darci veio João Baptista de Castro Meira, que há 17 anos viaja para Corumbá para pescar. Agora em 2022 conseguiu convencer o filho Eduardo Meira, 44, a viajar junto pela primeira vez.
“Ele é engenheiro civil, trabalha com o setor público. Está com a cabeça cheia, muita preocupação. Falei para ele para vir e se desligar. Aqui não tem celular, internet para ficar chamando. É algo para descansar, conectar-se com a natureza, explorar a sensibilidade de ouvir os pássaros, os grilos logo no amanhecer. Essa beleza que o Pantanal oferece não é algo que você vai encontrar fácil”, explicou João Baptista.
No grupo deles, o caçula na viagem é Felipe de Souza, 16 anos. “Agora a gente ainda tem TV, se quiser assistir. Mas um tempo atrás a única coisa era ver o Pantanal”, disse Darci para Felipe de Souza.
O entusiasmo do grupo está passando para os empresários. Luiz Felippe Nimer, vice-presidente da Acert, foi enfático ao falar sobre o movimento econômico do turismo de pesca para a região do Pantanal. A empresa dele tem dois barcos, que já saem nesta semana e com contratos novos. Outros associados estão no mesmo caminho.
“A expectativa está muito boa e é para ser um ano de recuperação. Veio certo receio com essa nova onda (do novo coronavírus), mas como os sintomas são mais leves, as pessoas estão animadas. O calendário está cheio, em partes pela demanda reprimida dos anos anteriores, mas há também novos contratos fechados. Estamos com 300 pescadores só nesta semana de abertura”, contabilizou.
Como os barcos-hotéis ficam em áreas isoladas do Pantanal, viajando por cerca de 3 a 5 dias, toda a estrutura de alimentação e de lazer é montada nas embarcações, que podem ter entre 28 a mais de 35 pessoas por viagem.
Os trajetos chegam a percorrer em torno de 300 km pelo rio Paraguai. Cada pescador tem a sua disposição uma lancha para levá-lo ao local de pesca, além de quatro refeições por dia e diferentes bebidas e comidas liberadas a qualquer momento.
Os pacotes de viagens custam cerca de R$ 5 mil por pessoa, com tudo incluso. O casal, por exemplo, chega a pagar R$ 7,5 mil.
Buscando espaço para crescer
O ânimo do setor de pesca ainda trabalha com margem para ganhar mercado no Brasil e fora dele. Em 2021, houve um trabalho em conjunto com a Embratur para promover o Pantanal durante as Olimpíadas do Japão.
Cenários do rio Paraguai, de Corumbá, da pescaria, além de Bonito foram apresentados em algumas praças esportivas, mas ainda sem medição oficial do resultado desse trabalho.
Conforme o governo de Mato Grosso do Sul, o planejamento para fortalecer a pesca no Estado é incentivar a modalidade pesque e solte, que tem apelo ambiental e só no rio Paraguai contribuiu para manter 270 toneladas de peixes na temporada de pesca de 2021, conforme estimativa da Acert.
A diretora de mercado da Fundação de Turismo de MS, Karla Cavalcanti, reconhece que a principal divulgação atual é que as empresas estão direcionadas para a prática esportiva.
“A pesca é um dos maiores produtos de Mato Grosso do Sul. Com a bandeira do pesque e solte, ganhamos um novo espaço. Notamos isso nas divulgações que estamos fazendo. A receptividade do nosso destino está muito grande”, reconheceu. A partir desta semana, material de divulgação vai ser veiculado em diferentes mídias para atrair a atenção de turistas para conhecerem o destino.
No Estado, não existe legislação vigente que determina o pesque e solte, somente há a proibição da pesca do dourado e estabelecimento de restrições com relação a tamanho de espécies.
Por conta disso, a pescaria não é liberada em fevereiro em todos os rios. Isso ocorre neste período do ano apenas no Paraguai e no Paraná. O Instituto de Meio Ambiente de MS (Imasul) só libera totalmente a pesca a partir de março, quando termina o período de Piracema.
Em Corumbá, nesta segunda-feira (31), houve iniciativa lançada entre a Acert e o Instituto do Homem Pantaneiro (IHP) para incentivar o pesque e solte.
A associação de empresas do setor de turismo e a entidade ambiental que atua na conservação do Pantanal e faz a gestão da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar firmaram termo de cooperação para que haja a ampliação de projetos ligados à modalidade de o turista pescar o peixe e após foto, devolvê-lo ao rio.
Quem já viaja para a pescaria reconhece que devolver o peixe é uma opção mais sustentável. “Antes a gente pensava que se não voltasse para casa com aquele monte de peixe não valia a pena.
A gente vai amadurecendo, entendendo que se é para voltar aqui mais vezes e encontrar essa beleza que é o Pantanal, precisa ter conscientização, precisa preservar.
Hoje a gente acha o máximo fazer competição de foto de quem pescou o maior peixe”, reconheceu João Baptista de Castro Meira, que há 17 anos viaja para Corumbá.
Fonte: Correio do Estado.
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